quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A LIÇÃO DO DINHEIRO.

Ele era salteador pela primeira vez. O cofre agora aberto estava à mão. E, lá dentro, ele viu, ante a casa vazia, Um pacote mostrando que trazia A soma respeitável de um milhão. Dispunha-se a empalmar toda a quantia… Quando o dinheiro lhe falou Em forma de conselhos e queixumes: — Pensa, amigo, Na obrigação que assumes, Ao levar-me daqui, nas condições de um louco, Já que podes buscar-me em compromisso Entre a força da fé e a bênção do serviço Retirando-me em paz, lidando pouco a pouco, Não quero ser motivo Para que sejas preso como eu vivo. Fui criado por Deus para fazer o bem, Não desejo aumentar as lutas de ninguém Quero sair daqui para ser agasalho Aos que gemem sem teto e sem trabalho. Anseio consolar as mães que padecem na estrada, De alma aflita e cansada, Ante a dor dos filhinhos A esmolarem socorro em remotos caminhos; Espero ser o apoio do homem triste Que de tanto sofrer necessidade, Já não sabe se resiste À tentação da morte que o invade. Sonho doar auxílio ao doente sem nome A fim de que suporte Ao duro sofrimento que o consome Livrando-se, por fim, das lâminas da morte, Quero sair daqui para que alguém me aceite De modo a ser o amigo sorridente, Que ofereça uma xícara de leite À criança doente. Quero ser cobertor para quem sente frio, Prato que nutra, força que refaça, Algo que plante amor no coração vazio, Instrumento do bem que ajuda, serve e passa. Mas ouve, amigo meu, não me faças razão De largar este cofre e levar-te à prisão. Trabalha e vem buscar-me Sem calúnia, sem crime, sem alarme, Quero ser luz e ação em tudo o que progrida E seiva a circular nas árvores da vida. Vê onde a sovinice me prendeu, Não te desejo o cárcere em que moro Na prova rude que me aconteceu. Quero ser livre e forte, assim como és, Caminhar com teus pés Aspiro a ser-te amigo e companheiro… Calara-se o Dinheiro E o pobre salteador inexperiente, Recuando, atingiu grande portão à frente. Nisso, o dono da casa, envolto em grande escolta, Veio à mansão de volta; Vendo o lar violentado e o cofre aberto Com o dinheiro intocado, Saudou o salteador que via perto E acreditando nele a presença de alguém Que lhe guardara a casa para o bem, Agradeceu-lhe o gesto De homem leal e honesto… Sustentando o silêncio e a tristeza no olhar, O pobre sem vintém começou a chorar… Ali mesmo, porém, começou vida nova, Transformado por dentro, alterou-se-lhe a prova; Passando a servidor da mansão que arrombara, Agia com firmeza, nobre e rara… Trabalhou a formar, de tostão a tostão, Os bens com que sabia socorrer Quem achasse a sofrer… E quando auxiliava aos semelhantes Em provações alucinantes Nos quais dizia ver os próprios irmãos seus, Rememorava a fala do milhão E clamava, em voz alta, ao lembrar-lhe a lição: — Obrigado, meu Deus!…