INCÊNDIO INFERNAL MATA 108 NA AUSTRÁLIA.

Tragédia. Fogo deflagrou sábado e continua a varrer o Sul do país. Pintor português que se salvou contou como muitas pessoas ficaram presas a "assar nos carros" quando tentavam fugir Primeiro-ministro diz que é o "inferno em toda a fúria" Marie Jones estava em casa quando um homem queimado chegou com a filha nos braços. "Viam-se tiras de pele a soltarem-se do corpo e a filha também estava queimada", contou a australiana ao Sydney Morning Herald. "Ele aproximou-se e disse apenas: "Perdi a minha mulher e o meu filho. Tudo o que quero é que salvem a minha filha." O homem era um dos sobreviventes da localidade de Kinglake. Conseguiu fugir antes de as chamas terem deixado a sua casa reduzida a cinzas. Os incêndios que desde o fim-de--semana varrem o estado de Vitória no Sul da Austrália são os mais mortíferos da história do país. Ontem, ao início da noite, contavam-se 108 vítimas mortais, mas as autoridades esperam encontrar mais mortos. O primeiro-ministro, Kevin Rudd, disse que o "inferno em toda a sua fúria visitou o povo de Vitória". Mesmo com a ajuda dos militares, as dezenas de milhares de bombeiros no terreno não conseguem travar as chamas que já chegaram aos estados de Nova Gales do Sul e Austrália Meridional. A culpa é em parte dos ventos fortes e das altas temperaturas que quase tocam os 50 graus centígrados. Luís Geraldes, pintor português residente em Jumbuk, contou à agência Lusa como o rápido avanço das chamas surpreendeu a população. "O fogo começou atrás da montanha (...) e avançava cem metros a cada três segundos", disse. "Percorreu as montanhas uma a uma. As árvores queimadas iam caindo e as pessoas ficavam sem poder fugir. Mas só se apercebiam disso quando já estavam dentro dos carros rodeados pelo fogo que os assava lá dentro." Geraldes fugiu para um centro de refugiados depois de, no sábado, a sua casa ter sido ameaçada pelo fogo. "A minha casa escapou milagrosamente, mas muitos não tiveram essa sorte", disse. "As garagens com carros explodiam. Os cangurus fugiam da floresta e vinham ter com as pessoas como se fossem crianças." Na zona a norte da cidade de Melburne - a segunda cidade do país e a mais afectada - pelo menos 700 casas foram destruídas. Nalgumas vilas da região nada ficou de pé. Um residente de Stathewen disse à BBC: "A escola desapareceu, a câmara desapareceu... alguns fugiram tarde demais. Perdemos amigos e não sabemos onde estão muitas crianças." A polícia suspeita de fogo posto em vários casos e já anunciou que os incendiários responderão por homicídio em tribunal.